Esta edição No. 5 de Sinal de Menos concentra-se em dois grandes temas: as questões urbanas (do movimento político brasileiro às perspectivas teóricas abertas por Constant Nieuwenhuys, por Guy Debord e os Situacionistas e por Henri Lefebvre até questões sobre o jogo e a crítica do moderno futebol-empresa) e as formas como Machado de Assis e Joseph Conrad representaram literariamente a modernização capitalista periférica em plena “era dos impérios”. A capa de Raphael F. Alvarenga teve a missão quase impossível de ilustrar estas duas linhas temáticas.
A edição começa com uma ENTREVISTA com o historiador MARCO FERNANDES, doutor em Psicologia Social pela USP e ex-militante do MTST. A conversa leva-nos por um percurso acidentado de conquistas e derrotas nos movimentos políticos brasileiros: do PT e o esvaziamento do trabalho de formação de bases à história das CEB’s e do movimento anarco- sindicalista no início do século passado.
Na seção de ARTIGOS, trazemos alguns textos sobre o projeto New Babylon, do pintor e arquiteto holandês CONSTANT NIEUWENHUYS, que pôs a sua imaginação a serviço do mundo pós-trabalho: o primeiro de GUY DEBORD (“Constant e a via do urbanismo unitário”), o segundo e o terceiro da autoria do próprio CONSTANT (“New Babylon – Um esboço para uma cultura” e “Descrição da zona amarela”, ambos, aliás, traduzidos dos originais). Segue-se uma apresentação desta problemática (“Um projeto em construção – Uma deriva pelo espaço-tempo de New Babylon”), feita por DANIEL CUNHA e RAPHAEL F. ALVARENGA.
A seguir, temos o ensaio de CLÁUDIO R. DUARTE, “Espaço social e sobrevivência do capitalismo – A teoria da reprodução social de Henri Lefebvre”, que estuda parte significativa da obra de Lefebvre, um importante interlocutor de Constant e dos Situacionistas. O texto mostra a atualidade da crítica lefebvriana da produção e reprodução do espaço social no capitalismo contemporâneo, tentando analisar o que o pensador francês denominava “contradições do espaço”.
Nos antípodas do clima geral de festa de copa do mundo, em “Futebol, capital, sadomasoquismo – O espetáculo como pseudo-jogo perverso”, CLÁUDIO R. DUARTE trata a questão da degradação do jogo em espetáculo capitalista e em uma espécie de “montagem perversa”, operante em sua racionalização, canalizando e desviando a violência social para fora do foco das relações sociais de dominação, com a constituição de um semblante de potência grupal e nacional, em que todos servem como instrumentos de gozo.
Por fim, chegamos à subseção literária. Em “Pacto com as trevas – Uma leitura materialista de Heart of Darkness”, RAPHAEL F. ALVARENGA e CLÁUDIO R. DUARTE analisam a novela de Conrad e tratam de pôr no lugar inúmeras peças de um grande quebra- cabeça materialista, que há mais de um século vem enfeitiçando a crítica. A posição correta do problema desvenda o pacto com o fetiche vivo, rastejando no coração “branco” das trevas coloniais africanas.
O último artigo, de CLÁUDIO R. DUARTE, “A loucura com método – O Delírio e o Humanitismo em Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba” faz uma leitura das duas mais célebres “philosophias” da obra machadiana, apontando em seu caráter enigmático – e só na aparência “carnavalesco” – a relação histórica com o laço social perverso e fetichista constituído na periferia do sistema, aproximando-se, nas linhas de fuga de seu movimento, com o estudo anterior sobre Conrad.
A seção de TRADUÇÕES LITERÁRIAS conta dessa vez com um pequeno texto de BERTOLT BRECHT, “O soldado de La Ciotat”, com tradução e introdução (“No tempo petrificado”) de RODRIGO CAMPOS CASTRO.
Na última seção, LEITURAS E COMENTÁRIOS, nosso resenhista quase oficial e infalível, JOELTON NASCIMENTO, escreve sobre o livro de Celso N. Kashiura Jr. (“Crítica da igualdade jurídica – Contribuição ao pensamento jurídico marxista”).
Como sempre, nossa expectativa é que estes textos alimentem novas discussões. A Revista vem aceitando contribuições. Os primeiros números estão à venda em papel (contate-nos para mais informações). Até a próxima edição!
Junho de 2010
[-] Sumário #5
Editorial
Entrevista
A crise do PT e do trabalho de base no Brasil com Marco Fernandes
Artigos
Dossiê “Constant” – Nota editorial
Raphael F. Alvarenga e Daniel Cunha
Constant e a via do urbanismo unitário
Guy Debord
New Babylon
Um esboço para uma cultura
Constant Nieuwenhuys
Descrição da Zona Amarela
Constant Nieuwenhuys
Um projeto em construção
Uma deriva pelo espaço-tempo de New Babylon
Daniel Cunha e Raphael F. Alvarenga
Espaço social e sobrevivência do capitalismo
A teoria da reprodução social de Henri Lefebvre
Cláudio R. Duarte
Futebol, capital, sadomasoquismo
O espetáculo como pseudo-jogo e montagem perversa
Cláudio R. Duarte
Pacto com as trevas
Uma leitura materialista de “Heart of Darkness”
Raphael F. Alvarenga e Cláudio R. Duarte
A loucura como método
O Delírio e o Humanitismo nas “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba”
Cláudio R. Duarte
Traduções literárias
No tempo petrificado
Introduzindo Brecht
Rodrigo Campos Castro
O soldado de La Ciotat
Bertolt Brecht
Leituras e comentários
A igualdade jurídica sob suspeita
Joelton Nascimento
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[…] (1959-74), por Constant Nieuwenhuys (publicado no Dossiê “Constant”, revista Sinal de Menos nº 5) –Um Mundo sem Dinheiro: o Comunismo (1975-76), por Os Amigos dos 4 Milhões de Jovens […]