A edição No. 6 de Sinal de Menos gira em torno das seguintes questões: como a literatura tem representado a cultura dos marginalizados na sociedade moderna? Como o que está “à margem” da sociedade, incluindo aí o inconsciente de seus sujeitos, irrompe nas relações sociais?
A seção de ARTIGOS abre com um ensaio de CLÁUDIO R. DUARTE sobre O Castelo de Franz Kafka. O autor esboça as linhas fundamentais de sua construção e mostra por que este é talvez o romance mais complexo de Kafka, sintetizando momentos fundamentais de sua obra, pois além da dominação e da alienação, ele introduz de forma poderosa a irredutível não-identidade da figura de K.
A seguir, temos dois ensaios sobre o romance Berlin Alexanderplatz de Alfred Döblin. O primeiro, de RAPHAEL F. ALVARENGA, procura integrar à explicação materialista a dimensão mítico-religiosa deste que é um “romance de formação” de um marginal, inscrevendo a obra no conturbado contexto político e cultural da República de Weimar, a cujo destino está enredado o de suas personagens. O texto de GABRIELA S. BITENCOURT busca, a partir da análise de alguns elementos formais da representação do espaço urbano no livro, discutir quais os desdobramentos do uso da montagem e como, por meio dela, a configuração da “metrópole literária” afeta a forma do romance.
Em seguida, DANIEL GARROUX faz uma leitura de Voyage au bout de la nuit, de Louis-Ferdinand Céline, sob o ponto de vista da ruptura da forma realista tradicional. Ao colocar seu leitor diante de um fluxo discursivo não-linear que emana de uma consciência cindida a narrativa subverte alguns dos pressupostos de que o gênero do romance havia se servido até então. O ensaio desenha a experiência social de fundo sedimentada no romance.
No próximo artigo, CÉSAR TAKEMOTO tenta repensar a centralidade do evento da guerra de Canudos para a configuração artística de duas obras importantes da literatura brasileira do século XX: Os Sertões de Euclides da Cunha e Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa. Para tal, o autor se utiliza de uma crônica de Machado de Assis para daí avançar alguns pontos na interpretação de uma determinada constelação histórica brasileira.
Em seu artigo, HELENA WEISZ acompanha a trajetória do mais ambicioso projeto do escritor brasileiro Aníbal Machado. Um livro que começou a ser escrito ainda no primeiro Modernismo, acompanhou todos os percalços e contradições desse movimento e só foi terminado em 1964.
Fechando a “sessão brasileira”, CARLOS PIRES analisa um balanço histórico da música popular e das transformações do Brasil, desde o final da década de 1960, feito por Caetano Veloso, em 1993. Essa reconstrução da história recente do país reposiciona o tropicalismo como um evento sem certas linhas de força, que são centrais para entendê- lo. A análise busca compreender qual o sentido desses apagamentos pontuais, que aparecem quase como sintomas no discurso de Veloso.
O último ensaio, da autoria de NILS GÖRAN SKARE, pensa a cotidianidade, no sentido de Henri Lefebvre, sob o ponto de vista da teoria lacaniana do discurso, em suas modalidades fundamentais (a do mestre, a do universitário, a da histérica, a do analista e, por fim o “dialeto” do capitalista). Se o cotidiano é o lugar potencial do acontecimento, o capitalismo, segundo o autor, seria um sistema que busca administrá-lo e, no limite, evacuá-lo do cotidiano.
A seção de TRADUÇÕES LITERÁRIAS traz uma variante da abertura de O Castelo de Kafka, que lança certa luz sobre o caráter da luta de K. no romance, e um pequeno conto de ALFRED DÖBLIN (“A Bailarina e o corpo”), ambos traduzidos diretamente do alemão.
Lembramos que a revista vem aceitando contribuições. O próximo número trará uma entrevista com Robert Kurz, repensando temas de seu livro seminal, O colapso da modernização, após 20 anos de sua publicação.
DEZEMBRO de 2010
[-] Sumário #6
Editorial
Artigos
Aproximações d’O castelo de Kafka
Cláudio R. Duarte
O velho mundo precisa sucumbir
Mito e história em “Berlin Alexanderplatz”
Raphael F. Alvarenga
A fratura da forma
Constituição e implicações da representação da metrópole em “Berlin Alexanderplatz”
Gabriela Siqueira Bitencourt
Louis-Ferdinand Céline
“Voyage au bout de la nuit” e a crise do realismo
Daniel Garroux
Da centralidade de Canudos
César Takemoto
João Ternura
Um livro à revelia do próprio autor
Helena Weisz
Otimismo e sebastianismo na história recente da tropicália
Carlos Pires
O dia-a-dia colonizado
Lacan, Lefebvre e os eventuais discursos cotidianos
Nils Göran Skare
Traduções literárias
Variante da abertura de O castelo
Franz Kafka
A bailarina e o corpo
Alfred Döblin
1 Comentário
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Eu, Cláudia Maria de Sá Pereira Netto, acho esta revista muito interessante!!!